Tenho um apreço especial por sistemas genéricos. Assim como o George R. R. Martin falou, quando questionado sobre que tipo de RPG ele gosta, é bem conveniente não ter que aprender regras novas para jogar em cenários distintos, sobretudo se você gosta de criar tudo do zero. Particularmente, gosto de fuçar sistemas diferentes e estudá-los como exercício de design, mas, para jogar mesmo, prefiro usar um conjunto único que contenha o maior número de aspectos que supram meus desejos. Atualmente, esse sistema é o GURPS, mas bem que poderia ser outro, como muitos que existem no éter. Um desses outros que creio ser bem interessante é muito menos famoso que o GURPS, embora tenha sido desenhado alguns anos antes.
Estou falando do Basic RolePlaying, ou BRP, da Chaosium, empresa que existe desde o final dos anos 1970 e que desenvolveu sistemas icônicos como Call of Cthulhu (atualmente em sua sétima edição), Runequest, Pendragon e 7th Sea. Um portfólio de respeito. Percebi, perguntando por aí, que muita gente joga ou já jogou Call of Cthulhu (em suas várias edições), mas quase ninguém ouviu falar do BRP. Parte disso se explica porque cenários específicos têm um apelo estético e imersivo maior: há um mundo concreto com teias de relações consistentes e detalhes interessantes. Os jogadores sabem exatamente no que estão apostando seu tempo, e é muito mais fácil fazer campanhas de marketing evocativas. Mas, como falei, cenários específicos têm fronteiras muito claras, e adaptá-los é um exercício laboroso e complicado.
O manual de Call of Cthulhu (7e) nos provê com dois períodos históricos: os anos dourados de 1920 e o período atual. Em 2020, a Chaosium lançou uma versão para a Idade das Trevas, mas os outros períodos ficaram para trás. E se quisermos fazer uma aventura pré-histórica? Ou no espaço? Ou, ainda, no renascimento? É nesse quesito que o BRP brilha.
As mecânicas do BRP são quase idênticas ao Call of Cthulhu e bem compatíveis com Runequest: é um sistema d100, com os mesmos atributos, perícias e método de criação de personagem. Então, se você já joga algum sistema da empresa, seu investimento cognitivo para aprender BRP é quase nulo.
Outra vantagem do sistema é que ele possui um SRD, permitindo que desenvolvedores comercializem produtos embasados no sistema, desde que sigam algumas diretrizes. Quem já conhece o blog deve estar se perguntando: por que é que você não publica coisas para BRP para pagar seu feijão com arroz, em vez de gastar recursos com GURPS? Pois bem, respondo.
Meu intuito com as publicações gratuitas de GURPS é prestar-lhe uma homenagem, um agradecimento pelas horas de diversão que me rendeu, além de incentivar a cena nacional a superar preconceitos infundados e dar-lhe uma chance. Também me divirto transformando minhas aventuras narradas em algo concreto, com ilustrações e tudo o mais, fazendo algo que eu mesmo compraria na gôndola de uma loja como a saudosa Forbidden Planet. Esse projeto ressuscita uma era de nostalgia, que é parte de um sentimento maior e inefável em sua totalidade. Ou seja, no fundo, é algo irracional.
Fechado esse ciclo, é bem possível que eu comece a me debruçar mais sobre o BRP, quem sabe usando-o para sustentar meus caprichos e meu sal. Quem sabe...
Então, leitores, encorajo-os a tentar uma jogatina com o sistema e avaliar por si. Quando o fizerem, me contem como foi.
Aquele abraço,
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