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O Oráculo Cinzento

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Sobre sistemas próprios

Enquanto escrevo este artigo, dezenas de sistemas estão em vias de publicação no mercado. Cada um com promessas de inovação, cada um, uma proposta que pede por seu investimento financeiro e cognitivo. Muitos são redundantes, mas sempre aparece uma gema preciosa no meio de tudo. Até que essa gema seja reconhecida e ganhe uma base sólida de jogadores, o caminho é árduo. Muito árduo. A ojeriza por "sistemas próprios" é, em parte, compreensível: "por que eu deveria aprender um sistema que pode não ter sido testado adequadamente, potencialmente injusto e quebrado?" Por outro lado, perde-se a oportunidade de aprender sobre arbitragens ou conceitos interessantes. E, claro, todo sistema renomado foi, um dia, um sistema próprio que enfrentou resistência de jogadores acostumados a outras mentalidades. Quebrar hábitos é um negócio muito complicado.


Mas, ei...se você quer gastar recursos na publicação ou preparação de um sistema próprio, vá com tudo. Prepare-se, no entanto: sua empolgação será recebida com mais ódio do que amor. Ademais, o mercado está saturado, e a maior chance é de que sua proposta não seja tão inovadora assim.


Mas...talvez você seja um louco, como eu, que constrói sistemas por diversão, mesmo que não jogue ou publique nenhum deles. Se sim, pode ser que tenha passado pela seguinte experiência: toda construção acaba gerando regras da casa que tornam um sistema em voga mais interessante para você (ao menos).


Com base nisso, se eu puder oferecer um conselho a quem deseja publicar sistemas próprios (vindo de quem já o fez duas vezes e já passou pela tortura das centenas de tentativas e erros), é o seguinte: comece divulgando regras da casa modulares compatíveis com sistemas renomados, resolvendo algo que lhe seja problemático ou trazendo adições das quais sinta necessidade. Discuta suas regras com diferentes perfis de jogadores, teste-as em um ambiente controlado por um bom tempo antes de lançar seu projeto ao mercado. Não divulgue mesas de jogo sob a rúbrica odiada "sistema próprio": se seu sistema não houver um nome específico e disponibilidade pública para que jogadores desconhecidos possam acessar suas ideias antes de se comprometer com algo que não lhes seja familiar, indique a busca por playtesters que estejam dispostos a fornecer feedbacks claros e objetivos.


Dito isso, não tenha medo de divulgar regras da casa por aí e testá-las com a comunidade, antes de se comprometer com algo maior e ambicioso. Se você é neurótico e se preocupar com plágio, saiba disso: regras não podem ser patenteadas, embora o texto literal seja parte da propriedade intelectual. Copiar o texto de um manual sem citação e atenção a permissões específicas é plágio, é crime. Isso não se faz. Agora, se alguém quiser fazer um sistema d20, digamos, no estilo do D&D, mas com textos completamente distintos e mecânicas únicas, ao menos nos Estados Unidos e na Europa, a pessoa não poderá ser processada por isso. A existência de SRD/OGL é uma mão na roda, pois deixa claro o que é ou não é propriedade intelectual da empresa que publicou o jogo em questão.


Defendo que ideias de sistemas ou regras isoladas sejam colocadas para debate público, assim como argumentos e opiniões relacionados. A internet pode ser um campo de batalha de pessoas mal-educadas, e é lamentável que poucos saibam rebater argumentos com outros argumentos, em vez de recorrer a ofensas pessoais e egocêntricas. No entanto, há quem ofereça críticas construtivas e fortaleça suas ideias.


Por fim, quero resumir a essência deste artigo: é desejável publicar arbitragens ou regras da casa modulares primeiro. Com o tempo, consolide-as em um compêndio consistente e, após amplas baterias de testes estruturados, publique-os como um sistema nomeado de fácil acesso. Todos têm direito a suprir suas necessidades de jogo, mesmo que isso implique a construção de um novo edifício. Eu mesmo uso este blog como um termômetro de vários assuntos, e, quem sabe, faça um apanhado de sugestões no futuro.


Uma boa ideia é como um promontório que sustenta a força das ondas, dia após dia, sem desmoronar (para tomar emprestada a metáfora estóica de Marco Aurélio). Tenha coragem, mas seja humilde e prudente.


Se tudo que criar se arruinar, o tempo não foi perdido: sairás mais experiente e apreciarás melhor os jogos consolidados.


Abraço,


PS: Quem não deve iniciar um sistema próprio? Aquele que, por inexperiência ou preguiça, pretende redesenhar regras pautadas em um sistema que pouco jogou ou compreendeu. Isso é sinônimo de desastre. Mas, como diria Gandalf, nesse caso, a mão queimada ensina melhor.



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